O sangramento uterino anormal (SUA) é qualquer alteração no padrão do fluxo menstrual que foge ao esperado em termos de regularidade, frequência, duração ou intensidade.
Ele pode ocorrer em qualquer fase da vida e pode ser um sinal de problema em várias partes diferentes do corpo, que afetam o sistema reprodutivo, endócrino (ou seja, dos hormônios) ou outras partes do organismo.
Dra. Paula Lima é uma médica conceituada, uma ginecologista com experiência em cuidado individualizado a cada pessoa com quadro de sangramento uterino anormal.
Em sua consulta, ela ouve com atenção, investiga com profundidade e explica com detalhes cada descoberta, os melhores tratamentos, e decide com você qual caminho seguir, para livrar você do incômodo do sangramento uterino anormal. Ela acredita que cada pessoa é protagonista do seu próprio cuidado em saúde, e merece uma médica que cuide com toda atenção e respeito.
O que é considerado normal?
O ciclo menstrual típico dura entre 21 e 35 dias, com um fluxo que varia de dois a sete dias.
Alterações como sangramento fora desse intervalo, muito intenso ou prolongado são consideradas anormais.
Além disso, o SUA pode incluir episódios de sangramento entre os ciclos, após a menopausa ou durante e após a relação sexual.
Quais são os tipos de sangramento uterino anormal de acordo com a causa?
O SUA pode ser causado por muitas coisas diferentes.
Para facilitar a investigação, a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) criou uma classificação, que divide as causas em dois grandes grupos:
1. Causas Estruturais (PALM):
- Pólipos: Crescimentos anormais de tecido no endométrio (revestimento do útero) ou no colo uterino. Podem causar sangramento entre os ciclos ou fluxo menstrual intenso.
- Adenomiose: Condição em que o tecido endometrial invade a parede muscular do útero, causando sangramento intenso e cólicas dolorosas.
- Leiomiomas (miomas): Tumores benignos no útero que podem levar a fluxos menstruais abundantes e prolongados.
- Malignidade e hiperplasia: Alterações pré-cancerígenas ou o próprio câncer no endométrio.
2. Causas Não Estruturais (COEIN):
- Coagulopatias: Distúrbios da coagulação, como a Doença de von Willebrand, que afetam a capacidade do sangue de coagular adequadamente.
- Ovulatórias: Alterações na ovulação, como ciclos anovulatórios em adolescentes, pessoas com Síndrome dos Ovários Policísticos ou mulheres na perimenopausa, que podem causar sangramentos irregulares.
- Endometriais: Inflamações ou infecções no revestimento uterino, como a endometrite.
- Iatrogênicas: Causadas por medicamentos ou dispositivos, como anticoncepcionais hormonais ou DIU.
- Não classificadas: Outras causas que não se encaixam nas categorias anteriores, como malformações uterinas.
Quem tem mais chance de ter sangramento uterino anormal?
Alguns grupos têm maior predisposição ao SUA, dependendo da fase da vida e de condições específicas:
- Adolescentes: Ciclos anovulatórios devido à imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano são comuns nos primeiros anos após a menarca.
- Mulheres em idade reprodutiva: Condições como miomas, adenomiose, endometriose e uso de anticoncepcionais podem ser fatores desencadeantes.
- Perimenopausa: A irregularidade na ovulação nessa fase pode levar a sangramentos imprevisíveis.
- Pós-menopausa: Sangramentos nessa fase são sempre motivo de investigação, pois podem indicar câncer de endométrio ou outras alterações graves.
- Condições médicas associadas: Pessoas com doenças como obesidade, síndrome dos ovários policísticos (SOP), diabetes, hipertensão e distúrbios de coagulação têm maior risco.
Que remédios podem interferir no sangramento uterino anormal?
Alguns medicamentos podem afetar o ciclo menstrual e contribuir para o SUA:
Anticoagulantes: Como a varfarina e os novos anticoagulantes orais, que dificultam a coagulação do sangue.
- Contraceptivos hormonais: Tanto pílulas combinadas quanto dispositivos intrauterinos hormonais podem causar irregularidades, principalmente nos primeiros meses de uso.
- Terapias de reposição hormonal: Usadas na menopausa podem desencadear sangramentos inesperados.
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): Podem interferir no controle do fluxo em algumas mulheres.
- Quimioterapia ou medicamentos para câncer: Afetam os hormônios ou causam toxicidade no endométrio.
- Antidepressivos e antipsicóticos: Podem alterar os níveis hormonais indiretamente.
Quais são os tratamentos para o sangramento uterino anormal?
O tratamento depende da causa, intensidade e impacto do sangramento na qualidade de vida da paciente. As opções incluem:
Tratamentos clínicos:
Os tratamentos clínicos têm como objetivo regular o ciclo menstrual, reduzir o fluxo sanguíneo e melhorar a qualidade de vida da paciente.
Eles variam de acordo com a causa do sangramento, a idade da mulher, e se ela deseja preservar a fertilidade.
- Anticoncepcionais hormonais
- DIU com levonorgestrel
- Ácido tranexâmico
- AINEs
- Progesterona isolada
- Agentes hormonais específicos
Vamos compreender como cada um desses tratamentos atua:
1. Anticoncepcionais Hormonais
Os anticoncepcionais hormonais são frequentemente a primeira escolha para regular o ciclo menstrual e reduzir o fluxo:
- Pílulas combinadas (estrogênio + progesterona): Regulam os ciclos, reduzem o volume de sangue perdido e aliviam cólicas. Podem ser usadas de forma cíclica (com pausa) ou contínua (sem pausa, para evitar a menstruação).
- Pílulas apenas com progesterona: Opção para mulheres que não podem usar estrogênio, como aquelas com risco de trombose.
- Adesivos transdérmicos e anéis vaginais: Oferecem os mesmos benefícios das pílulas combinadas, mas com aplicação semanal (adesivos) ou mensal (anéis).
- Injeções de progesterona: Administradas a cada 3 meses, são eficazes para evitar menstruações e controlar o sangramento, mas podem causar irregularidade nos primeiros meses.
2. DIU com Levonorgestrel
O dispositivo intrauterino (DIU) com liberação de levonorgestrel é uma das opções mais eficazes para reduzir o fluxo menstrual.
- Reduz o volume do sangramento em até 90% após 6 meses de uso.
- Pode levar à amenorreia (ausência de menstruação) em até 50% das usuárias após 1 ano.
- É especialmente útil em mulheres com miomas submucosos ou adenomiose.
3. Ácido Tranexâmico
O ácido tranexâmico é um antifibrinolítico que atua reduzindo a quebra de coágulos, diminuindo o fluxo sanguíneo:
- Usado apenas durante os dias de sangramento menstrual intenso.
- Seguro para mulheres que não podem usar hormônios.
- Eficaz em condições como miomas ou ciclos normais com fluxo abundante.
4. Anti-inflamatórios Não Esteroides (AINEs)
Medicamentos como o ibuprofeno e o naproxeno ajudam a reduzir o sangramento e aliviar a dor menstrual:
- Diminuem a produção de prostaglandinas, substâncias que aumentam a inflamação e contração uterina.
- Devem ser tomados no início do ciclo, durante os primeiros dias do fluxo.
- Reduzem o fluxo em cerca de 20% a 50%.
5. Terapias com Progesterona Isolada
A progesterona é utilizada para equilibrar o endométrio, especialmente em mulheres com ciclos anovulatórios:
- Via oral: Indicada para regular ciclos e reduzir o crescimento excessivo do endométrio.
- Via vaginal ou intrauterina: Útil em casos de hiperplasia endometrial ou sangramento localizado.
- Progestágenos injetáveis: Oferecem efeito prolongado, mas podem causar irregularidades iniciais.
6. Agentes Hormonais Específicos
- Agonistas e antagonistas do GnRH (hormônio liberador de gonadotrofinas): Usados para reduzir o tamanho de miomas e o fluxo em casos graves. Podem causar menopausa temporária e perda óssea, sendo indicados por períodos curtos.
- Danazol: Um medicamento hormonal menos usado atualmente, mas que reduz o sangramento ao suprimir o ciclo menstrual.
7. Suplementação de Ferro
Mulheres com anemia devido ao sangramento excessivo podem precisar de ferro:
- Via oral: Sulfato ferroso ou fórmulas alternativas são comuns.
- Via intravenosa: Para casos graves de deficiência de ferro ou intolerância ao ferro oral.
Terapias Não Medicamentosas
Essas intervenções são especialmente úteis para complementar os tratamentos clínicos e ajudar a melhorar o controle do SUA.
1. Controle do Peso Corporal
A obesidade está associada a alterações hormonais, como níveis elevados de estrogênio, que podem causar hiperplasia endometrial e sangramento anormal.
- A perda de peso melhora a regulação hormonal e reduz o risco de ciclos anovulatórios.
- Atividades físicas regulares também ajudam no controle hormonal e na redução do estresse.
2. Dieta e Nutrição
- Dieta rica em ferro: Inclui carnes magras, vegetais verde-escuros (como espinafre) e leguminosas (feijão, lentilha).
- Vitaminas: O consumo de vitamina C (laranja, acerola) ajuda na absorção do ferro, enquanto a vitamina B6 e o magnésio podem auxiliar no equilíbrio hormonal.
3. Manejo do Estresse
O estresse pode afetar o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, causando irregularidades menstruais. Técnicas como:
- Meditação: Reduz a ansiedade e melhora o bem-estar geral.
- Yoga e alongamento: Ajudam a regular os hormônios e aliviar dores menstruais.
- Terapia cognitivo-comportamental (TCC): Útil para mulheres que sofrem com estresse crônico ou distúrbios emocionais.
4. Acupuntura e Medicina Alternativa
Embora os estudos sejam limitados, algumas mulheres relatam melhora nos sintomas de SUA com:
- Acupuntura: Ajuda a regular os ciclos e alivia dores associadas.
- Fitoterápicos: Plantas como a vitex agnus-castus (agnocasto) podem auxiliar no equilíbrio hormonal.
5. Fisioterapia Pélvica
Indicada em casos de adenomiose ou endometriose associadas ao SUA:
- Promove relaxamento muscular e melhora a circulação sanguínea na região pélvica.
6. Monitoramento e Rastreamento Regular
Manter consultas regulares com o ginecologista é fundamental para:
- Avaliar a resposta aos tratamentos.
- Realizar exames de imagem ou laboratoriais para acompanhar a evolução do quadro.
Essas abordagens, quando combinadas, oferecem um cuidado integral e personalizado para o controle do sangramento uterino anormal. O objetivo é sempre proporcionar alívio dos sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Tratamentos cirúrgicos
- Histeroscopia: Para remover pólipos ou miomas submucosos.
- Ablação endometrial: Queima do revestimento uterino para mulheres que não desejam engravidar.
- Miomectomia: Retirada de miomas preservando o útero.
- Histerectomia: Remoção total do útero, indicada em casos graves ou refratários.
Tratamento das causas específicas
- Para distúrbios de coagulação, podem ser usados agentes específicos como a desmopressina.
- Antibióticos são indicados para infecções, como a endometrite.
O sangramento uterino anormal é uma condição comum, mas pode ter diversas causas e apresentar diferentes graus de gravidade.
A consulta com uma ginecologista é fundamental para o diagnóstico correto e o tratamento adequado.
Quanto mais cedo for investigado, melhor o prognóstico e a qualidade de vida da mulher.